terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Entre números e sensações

Quando o tempo ocioso aumenta, venho te visitar.


O relógio continua trabalhando enquanto estou sentada nessa cama, mas não entendo que tempo é esse que não pára junto comigo. Acordo, volto a dormir, desperto de novo, sonho de olhos abertos... sempre o mesmo nada. E a cada bisbilhotada, novos números. Por quê? Deveríamos aprender a controlar o tempo. Pará-lo, quando necessário... ou avançá-lo nos momentos de desespero. Mas não, estou aqui, deitada, limitada ao mesmo espaço, janelas fechadas, submetida à uma temperatura que, ainda bem, me aquece e sem perceber nada do que se passa lá fora. Ops, acabei o primeiro livro. Posso tentar pensar no tempo que se leva para ler um livro. Talvez consiga entender melhor o que se passa aqui. 


Cochilei. Perdão, a dor me deixa assim. Não presto muita atenção naquilo que estou fazendo. Talvez não me lembre do final do livro. Bom, leio mais uma vez, um pouco mais de tempo. Algumas músicas me distraem também, mas me deixam aflita, pois já dizem quanto tempo duram e assim fico em contagem regressiva para seu término. Quando não olho para os minutos, ao invés de aflita, fico curiosa. Computador já sem bateria e eu sem coragem de enfrentar os passos gelados até a tomada. Acrobacias na cama, encaro o teto, expulso o travesseiro, junto os pés...


Cochilei. Isso acontece algumas vezes. Cadê o travesseiro? Ah, claro, gelado lá no chão. Enrolo mais uma lã em meu pescoço. Espero mais, tudo bem. Agora acabou a bateria do celular. Pelo menos os números não vão mais me incomodar. Mas não tenho como saber com que velocidade o tempo está passando. Como seráAcho que devagar. Talvez através do barulho da rua. Um ônibus, dois... cinco...


Cochilei. Tenho a impressão de que suportei o tempo necessário. Já não sinto dor. A lã está exagerada. Levanto, abro a janela... luz da tarde. Tempo suficiente para o dia ainda. Eletrônicos sendo alimentados, livros de volta para a estante. E de volta o tempo corrido. Tomar banho correndo, se arrumar correndo, sair de casa correndo... tudo para aproveitar esse tempo. Esse tempo incontrolável e corrido de final de dia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Abandono necessário

A insônia sempre vem nessa época do ano, ainda mais quando as situações se apresentam tão parecidas. Insônia que a perturba enquanto não escreve.

Uma semana. O tempo que ainda resta para organizar tudo do lado de cá, virar a chave e ir para o outro. Não para de pensar como tudo se encaixa tão bem, como os sinais são tão perfeitos e as vivências só se completam.

Não há mais espaço para sofrimento, muito menos para conversas fora de hora. A preocupação é totalmente pessoal, sem tempo para deixar os pensamentos tomarem rumos distintos. Rumos que trariam agonia ao momento, agonia à essas vidas. Mas aonde está isso? Passou. Foi-se.

Esperou tanto para respirar como agora.

Entender cada passo, palavra e ação. Não esperar nada em troca. Não pensar em carinho ou briga. Estar presente sabendo que a ausência vem caminhando junto. Cada dia de melhora exclama por um tempo que não existirá.

Mas o que desenha as nuvens dessa cabeça? Que formas apresentam esses pensamentos tão distantes e tão únicos? Eles se descobrirão sós até lá. Ou não. Se descobrirão completos, sem necessidade de um apoio futuro.

Correndo contra o tempo, só enxerga a vontade de viver de novo os dias mais felizes, mais íntimos e mais reveladores. Se conhecer novamente. Mais uma vez experimentar o que surgir, ter poder de decisão. Mais uma vez viver como não se vive. Sobreviver aos dias.

Insônia que não a larga. Essa terra já não é mais sua. Se a soltarem, ela correrá, com os olhos abertos. Por isso está presa, com insônia, esperando o dia. Contando os minutos para o dia. Ainda não sabe qual dos dias... qual dos “8” conta para chegar. Mas conta. Está contando. E vai continuar... até ele chegar.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Mais uma vez

Só mais um dia.

Acordo com os pensamentos ainda bloqueados, congelados na mesma cena. Aquele momento me envaidece, ele me chama a cada minuto em meus pensamentos. Delicadamente, como não imaginava mais ser possível, me recordo de suas doces e sinceras palavras em meusouvidos. A cabeça ligeiramente virada, os olhos no infinito, os pensamentos muito longe e eu esperando que aquela sinfonia ecoasse para todos os meus sentidos. Tenho o cheiro ainda forte, pensar na sua pele já me esquenta, os gritos ou sussurros ainda próximos... é uma lembrança tão recente e tentadora, mas não consigo alcançá-la. Os desejos me preenchem a cada segundo que passa, oscilando entre improvisos ou cenas há muito já pensadas ou ditas. Pequenos e despretensiosos planos acabam agora em uma só vontade, que quase explode na alegria de ser dividida. Divisão, um bom ato para o momento. Divisão de dores, de carinho, de vontades, de agonias... É uma necessidade para que tudo se torne mais completo. Por que nos fechamos com medo de dividir nossos momentos? Um medo pelo outro, medo de alimentar demais ou de sugar as energias. Por quê? O estomago trava e nós sentimos sozinhos as dores e alegrias, nossa alma nos deixa leves e, de repente, pesados.A presença de um já grita pela do outro. Saudade das risadas espontâneas, dos gritos, do silêncio reprovador. Saudades dos momentos vividos, realmente sentidos na pele e no espírito. Saudades de estar presente e de não se preocupar em pensar nisso. Saudades de tudo que foi nesse tão recente que passou. Saudades, pura e simples, saudades. Mas é só mais um dia, só mais um encontro, só mais uma falta, só, mais uma vez, uma saudade.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Por isso hoje eu sou riso

É mesmo engraçado pensar nos momentos que vivemos. Mais ainda pensar em nós daqui a alguns anos pensando nesses momentos. Vamos rir. Rir das bobagens, das brigas, dos erros, dos amores… vamos rir de tudo que passou pelo simples fato de já ter passado. E se vamos estar tão confortáveis com todas essas situações, por que não descomplicar logo esses momentos? O nó na garganta, as bochechas rosadas, a lágrima escondida, a palavra mal falada. Por que não levar tudo na brincadeira, no riso, e não se preocupar tanto com o que nos impede de viver? Viver de verdade, sentir na pele… não fugir. Tudo passa. E essa será só mais uma fase. Tudo bem, talvez seja algo novo, algo que assuste, mas se daqui a algum tempo vamos rir porque não tivemos coragem de ter vivido algo… algo que talvez já seja bobo pra gente, por que não testar na hora em que surge em nossas vidas?
A minha proposta, tão nova e difícil, especialmente pra mim, é viver porque tenho vontade, é amar porque conheci um cúmplice, chorar porque preciso transcender as barreiras do meu próprio corpo. Ter a vontade e correr atrás dela sem medo do que virá a seguir... porque, na verdade, esse "a seguir" serão as risadas do que sempre acaba e passa. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Motivos

Mas qual a sua religião? É o teatro. Não, isso não tem nada a ver com religião, com crença. Por quê não? Eu acordo pensando no teatro, pensando em arte. Eu passo o dia procurando a arte em tudo o que eu faço, e mais, eu respiro arte. Continuo sem entender sua visão. Você acorda e reza, pedindo a Deus pra iluminar seu caminho, certo? Sim. Eu acordo e procuro uma poesia, essa poesia me acompanha o dia inteiro, me dando força ou aliviando minha dor. Em dias mais complicados eu acordo e faço uma poesia, da maneira que for. E por exemplo, antes de dormir você também reza, não é?! Sim. Antes de dormir eu leio meu texto, eu viajo nos personagens, eu vejo algum filme que me ajude a viajar mais ainda sobre esses personagens. Eu visualizo todos eles, sinto suas dores, angústias e também a felicidade. Eu consigo dormir sentindo emoções que eu não encontraria sozinho, descubro novas sensações e me permito, me entrego a cada uma delas, a cada bater mais forte no meu corpo. E você não sente a necessidade de acreditar em algo maior? Algo que te ajude a entender tudo que acontece na sua vida? O teatro pode não responder todas as minhas dúvidas, mas me ajuda a construir as minhas próprias questões. Ele me instiga, lá no fundo, ele não deixa que eu aceite tudo que eu escuto, ele me dá base para questionar. Eu encho o mundo de questões que provavelmente serão a angústia daqueles que não sabem questionar. Mas vai chegar uma hora que você vai precisar dessas respostas, os seus questionamentos não terão nenhuma função a não ser o seu próprio sofrimento. É nessa dor que a gente se junta e faz mais arte. Arte de todo o tipo, pura e simples, a arte. Porque mesmo sem saber explicar o que nos move, o que nos dá força, nós estamos lá uns com os outros, olhando no olho e sentindo. A gente sente na alma a vontade de continuar. Aos sábados e domingos quando você, quem sabe, talvez vá a missa, nós vamos ao ensaio. Nós também passamos tempo juntos, orando o texto, cantando as músicas, procurando a união dos sons e dos sentimentos. Nosso coro, cada vez mais alto e suplicante. Nós temos voz mesmo sem espaço para sermos ouvidos. Vocês também tem uma missa então. É, uma missa. Eu entendo um pouco melhor. O que? Você. Então me diz. Não é arte, teatro ou poesia. O que você não consegue explicar, isso que te atrai, que te une as pessoas, que faz seu coração bater mais forte quando lê um texto, quando se imagina no palco, quando está em cena com a respiração em harmonia com a de outro ator, isso tudo é amor. Você ama arte, é completamente apaixonado e, mesmo sem respostas, sem encontrar uma razão, é isso que você quer fazer. Você fica bobo, esquece tudo, se entrega... você ama e, com a arte, vive de amor.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Uma tentativa certeira

E eu creio que é assim que a gente começa. Um tornado de ideias e eu tentando me prender a uma, que, o mais rápido possível, possa ser moldada. Curiosa, pensativa e ainda deslumbrada com um "mundo" de possibilidades ao qual eu descobri fazer parte. Mas que mundo, realmente, é esse? Quem são essas pessoas que vão me aceitar e que poderão acreditar nas minhas ideias como benefício para o todo? E quem eu considero "o todo"?

São questões e mais questões que há duas semanas não saem da minha cabeça. Questões que vem de um momento de pura epifania, quando, numa tentativa que já nem eu acreditava, entrei para o grupo do laboratório de web-comunicação da UFRJ: o F5. Os incentivos que NÃO recebemos da faculdade ficam ainda mais visíveis no momento que 4 jovens com um potencial elevadíssimo decidem compartilhar experiências e conhecimento com alunos que possuem todo um potencial a ser trabalhado.

Já sinto as mudanças, não sei se é pretensão, mas é o que me parece nesse curto período de tempo desses encontros.  Tchau ao comodismo! Saí daquela situação que me trava, estou me livrando da parte de mim que não acredita. Em duas semanas, as perguntas começaram a se verbalizar. Afinal, qual a lógica da ideia brilhante, da sacação tão esperada, se não as compartilharmos?

E por muito tempo fui assim... observadora, minimalista e, acho que infelizmente, descrente. Percebia o erro, procurava uma solução, mas a abandonava. Quem escutaria uma menina? E hoje eu posso dizer, quem não escutaria essa menina? É a nossa hora, e a nossa voz vale muito. É uma energia, uma rede na qual as ligações são feitas por nós. Nós temos a oportunidade e precisamos fazer o barulho. Quem pode acreditar nas minhas ideias? Primeiro eu, nós. E será aí que ela ganhará forma pra se apresentar ao mundo. E que mundo? O meu, o nosso? Que limites eu mesma devo definir para que um projeto tenha qualidade e, com isso, movimente o maior número de pessoas possível para apoiá-lo?

Bom, no meio desse tornado, com certeza, existe alguma coisa que vai ficar. A sacada estará em quem souber aonde se apoiar e, assim, se manter depois do boom de ideias.